sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mais do que catador

Desempregados encontram na reciclagem um modo honesto de sustentar a família além de serem colaboradores para a preservação do meio ambiente.

Caixas de papelão, papel usado, latas de refrigerante, fios de cobre, pedaços de alumínio... tudo o que para a maioria da população é considerado lixo, hoje, é fonte de renda para muitas famílias que trabalham como catadoras de materiais recicláveis e contribuem para o meio ambiente. Esta alternativa tem se tornado cada vez mais frequente na sociedade.

A categoria de catadores é fruto de uma grande massa oprimida de trabalhadores, conhecida como exército industrial de reserva, que vagou pelas cidades sem emprego, fazendo bicos, trabalhando na construção civil, como ambulante ou em outra atividade informal. Os catadores encontram uma forma de sobrevivência, desde os últimos anos, nas ruas das cidades ou nos lixões, a partir da catação de materiais que os outros jogam fora. Buscam na coleta seletiva de materiais recicláveis uma alternativa de trabalho para sustentar suas famílias ou simplesmente sobreviver. Mas, sem duvidas, são colaboradores importantes para a preservação dos espaços poluídos pelo homem.

Hoje centenas famílias trabalham duramente coletando materiais recicláveis. Famílias inteiras que catam os materiais nas lixeiras de ruas, casas, condomínios e pontos comerciais ou nos lixões. Apesar de todo o trabalho e contribuição que dão à comunidade, sabemos que é comum a maioria dos setores da nossa sociedade e o próprio poder público não reconhecerem a importância desses profissionais no processo produtivo da reciclagem. Como também é comum não garantirem as condições e o pagamento pelo serviço que prestam.

Os catadores são vítimas freqüentes de casos de violência, tanto nas ruas como no trabalho (os lixões) e são diretamente relacionados como pessoas sujas, pela natureza de suas atividades. A situação de extrema vulnerabilidade em que se encontram, dada as condições de baixíssimo acesso aos direitos e às condições de pobreza, coloca as suas vidas em exposição direta à violência e a diversas formas de doenças. Sofrem, em alguns casos, situações de espancamentos realizados, inclusive, por políciais ou funcionários das prefeituras. O agravante é que os catadores ainda sofrem a discriminação por serem pobres e na maioria das vezes negros.

O trabalho dos catadores nas cidades brasileiras teve início muito antes da tomada de consciência ambiental, largamente difundida na década de 80. As ações originais surgiram como uma estratégia de sobrevivência. Atualmente, além da motivação ligada á fonte de renda, eles também são considerados agentes ambientais, colaboradores diretos dos sistemas de reaproveitamento e reciclagem de materiais. A forma como são vistos está mudando mais ainda em passos lentos.

Segundo dados da Limpurb - Limpeza Urbana de Salvador, na capital baiana existem 24 cooperativas e associações sem fins lucrativos constituídas de 700 catadores de materiais recicláveis que têm da catação sua única fonte de renda. Dois exemplos são as irmãs Ivanize Maria dos Santos, 30, e Denise Maria dos Santos, 29. Elas trocaram a roça, no município de Ipirá, há dez anos, pela vida no centro urbano de Salvador. Filhas da pobreza também não são alfabetizadas. Tentaram, sem sucesso, uma vaga em uma cooperativa de reciclagem, mas a busca foi em vão, porque não há vagas para todos os interessados. "Não consegui emprego nas cooperativas", lamenta Ivanize. Elas trabalham na coleta informal, vasculhando o lixo urbano. Precisam de mais ou menos uma semana para encher um saco com latinhas de alumínio. Quando revendem aos atravessadores, ganham cerca de R$10 pela mercadoria. A vida no lixo transforma-se, inclusive, em meio de alimentação, apesar de a maioria dos catadores negarem. As irmãs relataram: "O que dá para nós comer, nós come".

Criado a há cerca de 4 anos, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) vem organizando os catadores e catadoras de materiais recicláveis no Brasil. Seu objetivo é garantir o reconhecimento popular da classe, que é oprimida pelas estruturas do sistema social, tendo por princípio garantir a independência de classe, que dispensa a fala de partidos políticos, governos e empresários. O movimento desenvolve ações na busca de uma sociedade mais justa e melhor para todos. O Movimento busca a organização da categoria na solidariedade de classe, que reúne forças para lutar contra a exploração. Esse princípio é diferente da competição e do individualismo, busca o apoio mútuo entre os catadores e outros trabalhadores. Lutam pela autogestão do trabalho e o controle da cadeia produtiva de reciclagem, garantindo que o serviço realizado não seja utilizado em beneficio de alguns poucos (os exploradores), mas que sirva a todos os envolvidos.

De acordo com informações no site do MNCR (www.mncr.org.br), para ingressar e permanecer no Movimento os grupos interessados deverão cumprir os seguintes critérios: estar de acordo com todos os itens descritos na base de acordo; ser avaliado pelo Comitê Regional conforme critérios do MNCR; ser aprovado pela Coordenação Estadual; dar seqüência prática e submeter todas as ações da Base Orgânica aos critérios fundamentados na Base de Acordo; promover ato público de lançamento da base orgânica do MNCR, bem como assinar o termo de adesão e enviar cópia à secretaria estadual.

Informações utéis e importantes

Sem dúvida você já ouviu falar de reciclagem. No entanto, sabe-se que nem todo mundo compreende o que significa essa palavra: reciclagem é o processo de retornar o material usado em matéria prima e produto final por meio da industrialização. Além disso, o ato de reciclar diminui a poluição e o espaço ocupado pelo lixo, o que é um problema em cidades de todo o mundo. Já que estamos nesse assunto você sabe quanto tempo um simples papel jogado no chão pode levar para se decompor?:

Tempo de decomposição de materiais

PAPEL de 3 a 6 meses
PANO de 6 meses a 1 ano
FILTRO DE CIGARRO 5 anos
NYLON mais de 30 anos
LATA DE ALUMÍNIO de 80 a 100 anos
METAL mais de 100 anos
PLÁSTICO mais de 100 anos
VIDRO 1 milhão de anos
BORRACHA Tempo indeterminado

Ser catador é muito mais que geração de renda, é um ato de cidadania e preservação ao meio ambiente. Seja você também um colaborador.

Fontes:

- Clube de Pesca Cananéia: (0**13)3851-6117 / 3851-6118 / 3851-6143
- www.pangea.org.br (Cooperativa de recicladores em Salvador)
- www.mncr.org.br (Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis)


Por Wilton Mercês e Keila Rastelli

Nenhum comentário:

Postar um comentário