sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mais do que catador

Desempregados encontram na reciclagem um modo honesto de sustentar a família além de serem colaboradores para a preservação do meio ambiente.

Caixas de papelão, papel usado, latas de refrigerante, fios de cobre, pedaços de alumínio... tudo o que para a maioria da população é considerado lixo, hoje, é fonte de renda para muitas famílias que trabalham como catadoras de materiais recicláveis e contribuem para o meio ambiente. Esta alternativa tem se tornado cada vez mais frequente na sociedade.

A categoria de catadores é fruto de uma grande massa oprimida de trabalhadores, conhecida como exército industrial de reserva, que vagou pelas cidades sem emprego, fazendo bicos, trabalhando na construção civil, como ambulante ou em outra atividade informal. Os catadores encontram uma forma de sobrevivência, desde os últimos anos, nas ruas das cidades ou nos lixões, a partir da catação de materiais que os outros jogam fora. Buscam na coleta seletiva de materiais recicláveis uma alternativa de trabalho para sustentar suas famílias ou simplesmente sobreviver. Mas, sem duvidas, são colaboradores importantes para a preservação dos espaços poluídos pelo homem.

Hoje centenas famílias trabalham duramente coletando materiais recicláveis. Famílias inteiras que catam os materiais nas lixeiras de ruas, casas, condomínios e pontos comerciais ou nos lixões. Apesar de todo o trabalho e contribuição que dão à comunidade, sabemos que é comum a maioria dos setores da nossa sociedade e o próprio poder público não reconhecerem a importância desses profissionais no processo produtivo da reciclagem. Como também é comum não garantirem as condições e o pagamento pelo serviço que prestam.

Os catadores são vítimas freqüentes de casos de violência, tanto nas ruas como no trabalho (os lixões) e são diretamente relacionados como pessoas sujas, pela natureza de suas atividades. A situação de extrema vulnerabilidade em que se encontram, dada as condições de baixíssimo acesso aos direitos e às condições de pobreza, coloca as suas vidas em exposição direta à violência e a diversas formas de doenças. Sofrem, em alguns casos, situações de espancamentos realizados, inclusive, por políciais ou funcionários das prefeituras. O agravante é que os catadores ainda sofrem a discriminação por serem pobres e na maioria das vezes negros.

O trabalho dos catadores nas cidades brasileiras teve início muito antes da tomada de consciência ambiental, largamente difundida na década de 80. As ações originais surgiram como uma estratégia de sobrevivência. Atualmente, além da motivação ligada á fonte de renda, eles também são considerados agentes ambientais, colaboradores diretos dos sistemas de reaproveitamento e reciclagem de materiais. A forma como são vistos está mudando mais ainda em passos lentos.

Segundo dados da Limpurb - Limpeza Urbana de Salvador, na capital baiana existem 24 cooperativas e associações sem fins lucrativos constituídas de 700 catadores de materiais recicláveis que têm da catação sua única fonte de renda. Dois exemplos são as irmãs Ivanize Maria dos Santos, 30, e Denise Maria dos Santos, 29. Elas trocaram a roça, no município de Ipirá, há dez anos, pela vida no centro urbano de Salvador. Filhas da pobreza também não são alfabetizadas. Tentaram, sem sucesso, uma vaga em uma cooperativa de reciclagem, mas a busca foi em vão, porque não há vagas para todos os interessados. "Não consegui emprego nas cooperativas", lamenta Ivanize. Elas trabalham na coleta informal, vasculhando o lixo urbano. Precisam de mais ou menos uma semana para encher um saco com latinhas de alumínio. Quando revendem aos atravessadores, ganham cerca de R$10 pela mercadoria. A vida no lixo transforma-se, inclusive, em meio de alimentação, apesar de a maioria dos catadores negarem. As irmãs relataram: "O que dá para nós comer, nós come".

Criado a há cerca de 4 anos, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) vem organizando os catadores e catadoras de materiais recicláveis no Brasil. Seu objetivo é garantir o reconhecimento popular da classe, que é oprimida pelas estruturas do sistema social, tendo por princípio garantir a independência de classe, que dispensa a fala de partidos políticos, governos e empresários. O movimento desenvolve ações na busca de uma sociedade mais justa e melhor para todos. O Movimento busca a organização da categoria na solidariedade de classe, que reúne forças para lutar contra a exploração. Esse princípio é diferente da competição e do individualismo, busca o apoio mútuo entre os catadores e outros trabalhadores. Lutam pela autogestão do trabalho e o controle da cadeia produtiva de reciclagem, garantindo que o serviço realizado não seja utilizado em beneficio de alguns poucos (os exploradores), mas que sirva a todos os envolvidos.

De acordo com informações no site do MNCR (www.mncr.org.br), para ingressar e permanecer no Movimento os grupos interessados deverão cumprir os seguintes critérios: estar de acordo com todos os itens descritos na base de acordo; ser avaliado pelo Comitê Regional conforme critérios do MNCR; ser aprovado pela Coordenação Estadual; dar seqüência prática e submeter todas as ações da Base Orgânica aos critérios fundamentados na Base de Acordo; promover ato público de lançamento da base orgânica do MNCR, bem como assinar o termo de adesão e enviar cópia à secretaria estadual.

Informações utéis e importantes

Sem dúvida você já ouviu falar de reciclagem. No entanto, sabe-se que nem todo mundo compreende o que significa essa palavra: reciclagem é o processo de retornar o material usado em matéria prima e produto final por meio da industrialização. Além disso, o ato de reciclar diminui a poluição e o espaço ocupado pelo lixo, o que é um problema em cidades de todo o mundo. Já que estamos nesse assunto você sabe quanto tempo um simples papel jogado no chão pode levar para se decompor?:

Tempo de decomposição de materiais

PAPEL de 3 a 6 meses
PANO de 6 meses a 1 ano
FILTRO DE CIGARRO 5 anos
NYLON mais de 30 anos
LATA DE ALUMÍNIO de 80 a 100 anos
METAL mais de 100 anos
PLÁSTICO mais de 100 anos
VIDRO 1 milhão de anos
BORRACHA Tempo indeterminado

Ser catador é muito mais que geração de renda, é um ato de cidadania e preservação ao meio ambiente. Seja você também um colaborador.

Fontes:

- Clube de Pesca Cananéia: (0**13)3851-6117 / 3851-6118 / 3851-6143
- www.pangea.org.br (Cooperativa de recicladores em Salvador)
- www.mncr.org.br (Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis)


Por Wilton Mercês e Keila Rastelli

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Música independente: artistas que difundem suas músicas em redes sociais

Os artistas de música independente fazem parte do quadro de uma nova geração da nova música brasileira, uma tendência que atingiu o grande público. O antigo boca-a-boca perde espaço para as redes sociais, que atuam como grandes divulgadoras e incentivadoras deste modelo de difusão da música independente. Exemplos de plataformas para difusão da música são inúmeros. O MySpace, por exemplo, é um site gratuito onde se pode encontrar e adicionar amigos pela rede, postar fotos, vídeos, ouvir músicas e divulgar sua banda. É uma rede social com diversas opções e recursos para seus usuários.

Para as bandas, disponibiliza espaço para em média 10 músicas em formato MP3. O músico tem a liberdade de acompanhar as atividades que ocorrem em seus perfis, saber quem acessa e quem são seus fãs. Bandas como CPM22 e Capital Inicial, Zeca Pagodinho, Maria Rita, Vanessa da Mata, entre outros, já aderiram à versão brasileira, disponibilizaram downloads para os usuários, além de divulgarem seus projetos de trabalho.

A Trama Virtual é outro exemplo de plataforma que divulga bandas independentes nacionais. Diferentemente do MySpace, que além de nacionais divulga bandas internacionais ( por ser um site americano traduzido para os brasileiros). A Trama traz artistas já conhecidos na mídia como Ed Mota e Elis Regina. Além disso, conta com o download remunerado em que o artista ganha por cada música baixada.

Já no Palco MP3, pode-se encontrar uma grande variedade musical que dá a oportunidade de divulgar música independente, com letras das músicas (cifradas ou não), fotos das bandas e opção de downloads. O espaço permite, ainda que o usuário encontre música do mesmo gênero num único lugar. “Eu sempre gosto e preciso garimpar bandas novas que façam Classic Rock. E por mais conhecido que seja nunca encontro nada parecido no Trama Virtual – lá tem música “indie” demais. Mas no Palco MP3 eu já achei o “Yllow Plane” e o “Velho Joe”, duas bandas excelentes do Rio de Janeiro”, diz Diego Matias usuário do Palco MP3 em depoimento para o site.

Em todos os sites, a banda ou cantor que se destaca aparece na página principal, além de disponibilizarem gratuitamente as canções para os fãs. Estas redes sociais são as mais famosas entre os internautas. A internet, como meio difusor, é uma ferramenta de fácil acesso para os “interneteiros” do mundo inteiro. As bandas divulgam seus EPs (Extended Play), fazem divulgação de shows e vendem seus ingressos. A facilidade de acessar o Twitter, por exemplo, e anunciar todos os principais acontecimentos através de mensagens simultâneas as quais chegam aos seus chamados seguidores, é uma fora de fazer essas divulgações. Tássio Carneiro, tecladista da banda Velotroz, diz que esse é o melhor meio para divulgar o trabalho do seu grupo. “É o caminho mais correto atualmente por ser gratuito e muito eficiente para quem sabe usá-las. O que acontece no meio independente é que as vezes falta muito recurso financeiro”.

As redes sociais facilitam muito a agilidade da informação. Em entrevista com Erick Lomba, baterista da banda Sensus de Niterói (RJ) por MSN, ele declara que qualquer meio de comunicação em massa é muito bom. "Precisa-se de oportunidade e com certeza a falta de recursos financeiros é um grande problema. Ninguém investe no meio independente”. Tássio também fala desse déficit que o meio musical sofre: “Para ganhar mais reconhecimento, eles precisam de espaço, falta muito espaço e incentivo dos donos de estabelecimentos e até do próprio público, que aqui na Bahia ainda tem o pé um pouco atrás com a produção independente".

No Rio de Janeiro, a banda Sensus também sente a mesma dificuldade. O investimento em músicas independentes é muito difícil, só acontece se realmente dá garantias de retorno. “Nenhum produtor vai pro meio underground/independente para pesquisar bandas novas”, diz Erick. Muitos empresários ou proprietários de estabelecimentos, como bares e restaurantes que contratam essas bandas de estilo independente, acabam explorando de certa forma seus serviços.

Existe maior interesse na bilheteria do que no apoio a estes artistas. O investimento geralmente parte da própria banda que utiliza seus recursos para compra de instrumentos, locação de estúdios, etc. Quem possui maiores condições financeiras tem mais oportunidades no mercado musical independente. A música tem que atender as expectativas do mercado. Tornou-se um comércio em que não se pode apenas viver de música por ideais.

A falta de reconhecimento ainda é um problema que se tenta superar através das redes sociais que são utilizadas como “upgrade” para o sucesso de quem quer mostrar o seu talento. “ Não há muito espaço nas casas de shows que aceitem tocar o ritmo de rock’n roll. O axé é mais organizado em relação a produção e divulgação nos meios de comunicação na Bahia”, nos conta Daniel Fonseca da banda Terceira Ordem.

Para as bandas que querem mostrar seus trabalhos e viver de música, a dica é aproveitar a divulgação gratuita que as redes sociais oferecem em seus espaços na rede. Explorar este meio de comunicação que dá assistência e recursos para este público que está crescendo no cenário musical.


Por Mariana Barbosa e Gabriela Malaquias

Monange Dream Fashion Tour – moda e música invadem a Bahia

A união de mulheres bonitas, boa música e as últimas tendências da moda foram os ingredientes principais do evento que mexeu com a capital baiana no último dia 15 de maio. O Monange Dream Fashion Tour, que trouxe o glamour dos desfiles internacionais para as passarelas soteropolitanas, reuniu mais de duas mil pessoas e passará por onze cidades brasileiras.

O evento foi organizado pela empresa Mega Models e contou com o patrocínio da Monange. A divulgação ficou sob responsabilidade da TV Globo, que traz a apresentadora Xuxa Meneghel abrindo todas as edições do projeto. Nomes consagrados do cenário da moda, como Isabeli Fontana e Raica Oliveira incrementaram o desfile com suas presenças.

Realizado no Cais Dourado, no bairro do Comércio em Salvador, o Monange embalou o público com as canções do grupo Jota Quest. Os músicos fizeram uma seleção das faixas do último CD, intitulado “La Plata”, além de sucessos que marcaram a carreira da banda. Para Leonardo Belli, responsável pela produção do desfile, esse tipo de evento quando realizado fora do eixo Rio - São Paulo é uma oportunidade para mostrar às meninas que sonham em ser modelos que é possível chegar até as passarelas. Foi o que aconteceu com as gêmeas Suzana e Suzane, de 14 anos. A mãe das meninas escreveu para a produção do programa “TV Xuxa”, relatando o sonho das filhas e a apresentadora visitou a casa das gêmeas, levando-as para entrar na passarela do Monange Dream Fashion Tour junto com ela.

“O desfile pode ser considerado como mais uma oportunidade de proporcionar ao público baiano um aspecto diversificado e inovador do mundo da moda e da beleza, já que esse tipo de evento não é comum na região”, comenta Leonardo Belli. Existe também a avaliação de que é uma forma de entretenimento, que achou na música um atrativo mais próximo da realidade do público-alvo.

Um evento de grande porte, como foi o Monange Dream Fashion Tour, deixa aberto algumas opções para análise. Uma delas é do ponto de vista mercadológico, se for levado em consideração o valor dos ingressos, que variou de cinqüenta a cem reais, temos uma idéia inicial do capitalismo que envolveu esse projeto. Tendo em vista que o consumo está presente de forma intensa na sociedade moderna, no desfile ficou evidente o poder da mídia no incentivo ao consumo, utilizando diversas maneiras, entre elas, a exposição de celebridades e a distribuição de brindes. Com stands montados durante todo o evento, marcas como a Bozzano, Biocolor, Risqué e a própria Monange utilizaram os espaços como amostra das novas linhas dos produtos, numa campanha de marketing ativo.

Outro enquadramento do assunto é a questão da desvalorização dos artistas locais. A banda escolhida para animar o desfile, o “Jota Quest”, surgiu em Minas Gerais e faz sucesso em todo país. No entanto, se o evento traz para as cidades brasileiras as novidades no mundo da moda, seria justo que os artistas da região tivessem oportunidade de mostrar o seu trabalho. No âmbito musical, a Bahia assim como os outros estados que receberão o Monange Dream Fashion Tour, dispõe de cantores à altura do evento. Nota-se a presença de um preconceito ligado a expectativa de impor um gosto musical.

“Falando de regionalidade, até que o lugar foi bem escolhido, outros eventos baianos não desfrutam do espaço que de fato é bem interessante”, afirma Layra Mercês, assessora do desfile em Salvador. A estrutura do ambiente que conta com uma área total de mais de dois mil metros quadrados, foi proporcional ao porte do evento que misturou música e moda em Salvador. E por falar em moda, as criações do desfile inspiram muitas pessoas, desde as meninas que se espelham nos padrões de beleza e até profissionais da área. É o caso da estilista Edna Furtado que participou do evento com o objetivo de se atualizar. “As tendências se modificam com extrema velocidade, digamos que a cada estação a moda se transforma, por isso, eu como profissional preciso me especializar e acompanhar as tendências”, afirma a estilista.
Segundo a estudante de moda, Camila Fraga, um desfile como o Monange serviu para ampliar seu aprendizado, confirmando que ela está no curso certo. “A busca constante de informação faz parte dessa nova profissional que pretendo ser, quero ter um olhar diferente sobre a moda, e todo evento que participo amplia meus conhecimentos”, comenta Camila.

Toda a estrutura do evento desde o horário de início, acesso ao local, valor dos ingressos dificultou a presença da grande massa no desfile, mostrando que o mesmo foi organizado para um público seleto, que pudesse desfrutar do rico conhecimento proporcionado. Mas, a realidade atual é que beleza e moda estão relacionadas na maioria das vezes, aos padrões de magreza impostos pela indústria midiática. E na busca do corpo perfeito, muitas meninas tomam atitudes de autodestruição. No entanto, esse conceito de que para ser bela é preciso ser magérrima está mudando. Já é possível ver modelos com mais corpo, embora em número ainda pequeno devido ao padrão de beleza que domina a sociedade há tempos.

Embora exista a possibilidade de análise mais conceitual, embasada em fatos históricos e culturais para o desfile, a avaliação do público está mais voltada para o lado do entretenimento, o que de fato ocorreu. A junção de música, diversão e mulheres bonitas agradou os baianos acostumados a outras opções de lazer.
A moda está relacionada à vida cotidiana direta ou indiretamente, e o Monange Dream Fashion Tour trouxe para Salvador muito mais do que um desfile unido a um show musical. O evento mostrou aos baianos, entendidos ou não do assunto, o mundo da moda com todos os seus encantos e sofisticação.


Por Bárbara Sousa e Taline Lessa

Fórro tradicional resiste

Salvador é uma cidade de muitos ritmos musicais, o axé é o que mais se destaca durante a maior parte do ano. Em Junho essas bandas de axé são deixadas um pouco de lado e as portas se abrem para o forró. Bandas como: Mastruz com Leite, Estakazero, Calcinha Preta e Aviões do Forró, são atrações bastante consagradas e por sua vez, serão atração principal nos melhores arraiais do estado. Porém, ao contrário do que acontece no carnaval, que é concentrado apenas na capital, no São João as melhores festas estão no interior. Centenas de cidades baianas promovem vários dias de festa, o que favorece o surgimento de muitos grupos, que tocam variados estilos de forró. Luiz Gonzaga, foi o precursor do baião, ritmo que ao lado de outros como xote, xaxado e côco, fazem parte do chamado forró. Vários artistas deram continuidade ao legado de Luiz Gonzaga, como é o caso de Dominguinhos, Sivuca, Trio Nordestino, Genival Lacerda e etc.

Apesar do surgimento de tantas bandas, principalmente na capital baiana, poucas são reconhecidas e lembradas na composição dos grandes eventos de São João. Outras ainda deixarão de tocar ao final dos festejos. Mesmo assim, neste período são muitas as oportunidades de trabalho para bandas de forró iniciantes. Mesmo contra a ditadura do Axé Music que apesar de não ter nada a ver com o estilo junino, toma o espaço que poderia ser ocupado por pequenos grupos de forró, em eventos particulares em cidades do interior.

Muitas dessas bandas não conseguem resistir. É o caso da banda Forró Mulambo, “tocávamos por todo o Brasil. Mas não conseguimos chegar onde queríamos, o sonho era poder viver da musica, só que no forró não se paga muito bem, então os donos das casas noturnas preferem as bandas de pagode, por serem mais populares e mais baratas. Nossa banda perdeu espaço e acabou se desfazendo”, disse Xan Moreira, ex-vocalista da banda.

Os menos fiéis mudam de estilo, é o caso da banda Forró Massapê, conhecida por tocar um forró mais tradicional, estilo Luiz Gonzaga, teve que se render ao mercado, para tornar seu som mais comercial. “Quando você é uma banda de marca "pequena" não é respeitado, portanto, tem que se sujeitar aos vícios do mercado para que possa crescer e mostrar o seu valor”, contou o vocalista da banda, Gustavo Sergio. Já os mais saudosistas, guardam seus instrumentos na esperança de voltar a tocar forró, e finalmente serem contratadas por alguma casa de show especializada em forró. É o caso do Coliseu, espaço localizado na Avenida Octavio Mangabeira, bairro de Piatã, em Salvador. No Coliseu, tem forró durante todo o ano, e é bastante freqüentado pelos amantes do ritmo.

Mozzar é vocalista de Banda Brinquedo de Menina, segundo ele, conseguir espaço fora do período junino é complicado demais. Mas no São João esta realidade muda de “figura”, a banda tem shows marcados para todo o mês de junho, em Feira de Santana e em algumas cidades do interior como: Caldas do Jorro, Araci e Euclides da Cunha. “pena que na Bahia não temos tanta visibilidade quanto às bandas de axé, mas sempre acreditamos em nosso trabalho e temos resistido a essa ditadura há quase 6 anos” disse Mozzar.

Geomagna Santana é recém formada em produção de eventos, seu trabalho de conclusão de curso foi a produção de um show de forró, “foi muito boa e assustadora ao mesmo tempo, a experiência de produzir um show com uma banda desconhecida. No início achávamos que não ia ter ninguém, até a hora do evento ainda pensávamos isso. A banda começou a tocar e ficamos desesperados, porque de 635 ingressos, só tínhamos vendido 220, mas como a casa já tem seu publico fiel logo o espaço ficou lotado, graças a Deus,” disse Geomagna.

O mês de junho é bastante propício para pequenas bandas ganharem dinheiro, e quem sabe até conseguir alcançar a tão sonhada fama. Toda banda pequena quer ser reconhecida um dia, aparecer na TV e fazer muitos shows pelo Brasil a fora. Para isso é preciso ter talento e muita força de vontade, porque o caminho é cheio de espinhos e muitos param diante do primeiro desafio.

Por Janaína Lima e Francisco Reis

Jogo de estreia da seleção altera a rotina de muita gente

Terça-feira, dia 15 de junho de 2010, a cidade acorda em duas cores, é o verde e amarelo, cores que representam um país corrupto, um país que habita um povo sofrido, mas esse verde e amarelo também representa a coragem e esperança de um povo lutador e guerreiro. Chegou a hora da tão esperada estréia da seleção, as expectativas, as reações e as decepções. O antes, durante e depois.

Na última terça-feira, dia 15, Salvador amanheceu diferente, e não precisava fazer esforços para saber o que estava acontecendo. A grande quantidade de camisas verde a amarela era o suficiente para lembrar que o dia da tão esperada estréia da Seleção Brasileira na Copa chegou. Na cidade, ruas que geralmente tem circulação livre estavam engarrafadas, exemplo disso foi na Avenida Paralela sentido Aeroporto, onde os pontos de ônibus estavam cheios, os passageiros reclamavam da demora dos coletivos, que quando chegavam, a sua maioria não parava nos pontos pois estavam super lotados. Mas mesmo diante de tudo isso, não dava pra esconder a expectativa pelo jogo de estréia do Brasil contra a Coréia do Norte.

Antes...

Órgãos públicos e vários estabelecimentos comerciais resolveram encerrar o horário do experiente mais cedo para facilitar a volta pra casa de quem queria assistir o jogo no sossego de sua própria residência. E também para dar tempo encontrar com a galera no local escolhido para fazer a bagunça, típica do brasileiro durante jogos de futebol.

Na Máquina de Vendas, empresa que surgiu com a fusão das Lojas Insinuante e Ricardo Eletro, com sede em 2Lauro de Freitas, a expectativa era grande por parte da maioria dos funcionários. “Tô ansioso, contando as horas para ir pra casa, já estou até suando”, afirmou Milton Nogueira, auxiliar administrativo. E ainda arriscou um palpite, onde é claro o favorito era o Brasil, “3x0 pro Brasil” disse ele.

Desde que foi anunciada a lista de convocados para a Copa 2010, o técnico Dunga tem sido alvo de várias críticas, e até hoje muita gente diz que o técnico falhou em não colocar na lista Neymar e Ganso, destaques no campeonato brasileiro nesses últimos meses pelo time do Santos. E para não dizer que mulher não entende de futebol, Aline Estanislau, auxiliar de escritório da Máquina de Vendas, foi firme na sua opinião: “Como torcedora, minhas expectativas são as melhores possíveis, mas como crítica... A gente sabe que a seleção vai passar pela Coréia, mas está muito fraca para os próximos jogos”. Ela acha que talvez a salvação da seleção esteja em Kaká, Robinho e Júlio César.

Em meio a tantos fanáticos pelo futebol, ainda tem gente que não se empolga nem um pouco, é o caso de Simone Miranda, auxiliar do departamento financeiro. “Não vejo a hora de chegar em casa, descansar um pouco e ficar com minha filha de 2 anos. Detesto jogo!” Por volta das 14h, horário em que a maioria das empresas liberaram seus funcionários, era o momento de enfrentar uma nova maratona para tentar chegar em casa. Tudo que tinha acontecido pela manhã se repetia e ainda tinha gente que não ia poder assistir o jogo. Era o caso do cobrador de ônibus Roberto Alencar que trabalha em uma empresa que faz o itinerário Lauro de Freitas - Terminal da França. Ele disse que o ônibus não podia ficar parado no final de linha, o jeito era escutar o jogo pelo rádio.

Durante...

Com ruas humildes e pouca decoração com o tema da copa, no bairro do Trobogy, a casa escolhida para a bagunça foi a do estudante Daniel Pereira. Seus familiares e amigos fizeram da pequena sala uma grande arquibancada para torcer. Não era possível ficar em silêncio, mas os olhos não desgrudavam da tela.

Televisor com o volume no máximo, muitos gritos e nada de gols no primeiro tempo. Mas aos 10 minutos do 2° tempo, o estouro dos fogos e o grito de gol anunciou que o Brasil tinha despertado e, finalmente, abriu o placar. Não demorou muito e Elano aos 26 minutos marcou o segundo gol da seleção Brasileira, mas ainda não era o fim. A Seleção Coreana ainda tinha uma surpresa para os brasileiros e já no finalzinho do jogo marcou um gol. Final da partida, Brasil 2 x 1 Coréia do Norte.

Depois...

Aline Estanislau, que criticou a seleção antes do jogo, continuou defendendo sua opinião: “Deste jeito não chega longe não”. A maioria dos brasileiros ficaram insatisfeitos com o futebol mostrado pela seleção canarinho. Mesmo assim o Brasil lidera o grupo G, superando Portugal e Costa do Marfin.


Por Samuel Barbosa

Forró Pé-de-Serra em Lauro de Freitas


A Prefeitura Municipal de Lauro de Freitas, através de sua Secretaria de Cultura e Turismo, promove a festa de São João da Cidade, com o objetivo de colaborar e participar da iniciativa da Bahiatursa no São João da Bahia, resgatando a tradição pé de serra da cultura nordestina. O evento ocorre entre os dias 23 e 25 de junho, na Praça da Matriz, centro de Lauro de Freitas. A secretaria estima reunir cerca de quinze a vinte mil pessoas por dia para participarem da comemoração do São João. As atrações serão o forrozeiro baiano Zé Costa; apresentação nacional do cantor e compositor Chico César, com repertório de forró; além de Targino Gondim, Zé de Tonha, Estakazero, Cangaia de Jegue e Trio Nordestino. A festa contará também com bandas, trios de forró, grupos típicos, quadrilhas e festival de comidas típicas.

Segundo nota da Prefeitura, o São João de Lauro de Freitas favorece ao processo de inclusão social através da fruição da cultura, mediante acessibilidade ao evento para pessoas com necessidades especiais e a participação de orfanatos e asilos. A assistente técnica da Secretaria de Cultura, Lú Barreto (50), diz que o objetivo do evento é realizar uma festa popular que faz parte do calendário baiano de festas, trazendo alegria e satisfação para a família laurofreitense.

Já o Secretário da Cultura e Turismo da Prefeitura, Antonio Lírio (37), enfatiza que a festa de São João da cidade é a única da região Metropolitana de Salvador com a característica “pé-de-serra”. Ele diz ainda que em festas juninas anteriores as tentativas da realização do evento pé-de-serra foram frustradas, no entanto, a secretaria teve o devido cuidado de selecionar as atrações da festa, mantendo o rítimo bem característico da cultura nordestina. “Diferente da gestão antiga, sua secretaria briga para dar destaque também às atrações locais. O que se vê hoje são várias bandas de forró,fazendo um evento de massa com músicas diversas e usando trajes que descaracterizam o São João. A cidade já promove um evento anual: a Micareta de Portão, são nessas festas que todos os rítimos e frevos devem tocar”, acrescenta Lírio.

Lírio afirma que de fato existe uma resistência muito grande de vários artistas consagrados,em aceitarem que uma atração local abra uma determinada festa. A cidade já realizou outros eventos e convidou as cantoras Alcione, Daniela Mercury e o cantor Chico César, porém a Secretaria de Cultura busca sempre priorizar o artista local. Em uma apresentação diferente do São João, o cantor Chico César apresentou-se e quem abriu o evento foi a artista local Sandra Ribeiro.

A diretora da Secretaria de Cultura e Turismo da cidade, Emanuela Ferreira (31), esclarece que a festa junina de Lauro de Freitas é um evento para a família e a Prefeitura contará com o apoio da polícia, guarda municipal, ambulância e Corpo de Bombeiros. A estrutura da festa contará com barracas padronizadas, palco, iluminação, geradores, sonorização, limpeza e iluminação pública. Diz ainda, que o valor do investimento da festa foi de R$ 140.000. Portanto, além do evento preservar as tradições e identidade do povo nordestino, terá um incremento muito grande no turismo sociocultural do município.

Uma das atrações, o forrozeiro pé-de-serra, Zé Costa (54), diz que trará um forró elegante, romântico, como poesia do cantor Gonzaguinha, composição própria e fará assim, homenagem a Luiz Gonzaga. Segundo ele, Luiz Gonzaga cantou o sertão, cantou o homem, cantou a mulher, o menino e o velho, e complementa relatando, que o forró mecânico é uma lambada com nome de forró, por isso,critica estas festas com apresentações que se intitulam forró. “Estas festas privatizadas são um verdadeiro massacre, não sabem fazer o forró autêntico”, afirma Zé Costa. Ainda reforça que está no segundo ano da festa de Lauro de Freitas e diz que o evento é o reforço ao verdadeiro forró, que acrescenta e muito no seu trabalho.

Luiza Gláucia Pinheiro (45) é cidadã de Lauro de Freitas e afirma residir nessa região há três anos e pôde acompanhar estes últimos festejos. A incidência de violência é bem menor nessas festas populares, porque o som da raiz nordestina é mais harmônico e bem tradicional. Luiza está muito feliz com a iniciativa da Prefeitura em realizar um evento pé de serra. Ela veio da Paraíba e este evento a faz se sentir em casa.

Segundo a Prefeitura, pretende transformar a festa de São João num grande evento turístico, cultural e econômico, que trará trabalho e renda e, consequentemente, desenvolvimento para a cidade e seus munícipes. Luiz Guilherme (47) e Claudia dos Santos (36) são dois moradores da cidade, cadastrados na Secretaria de Cultura para executarem diariamente o trabalho de vendedores ambulantes,. Nesta festa, ambos conseguem amealhar recursos financeiros e afirmam que o lucro é muito bom. “São vários os barraqueiros inseridos nesta festa, no entanto, dá para todos tirarem o seu sustento”, complementa Claudia.

Lauro de Freitas é uma cidade que está situada a trinta quilômetros do centro da capital, com acesso fácil através do Sistema Viário Dois de Julho. Em sua vizinhança encontra-se o Aeroporto Internacional e a BR-324. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, a cidade possui 113.543, tem uma renda per capita de R$ 12.000, ou seja, a cidade está em desenvolvimento.

Para o historiador Gildásio Vieira Freitas (61), o governo do estado está agindo acertadamente ao eleger o São João como a maior festa regional do Brasil, envolvendo toda a região Nordeste. Gildásio conta que Bahia tem neste ciclo de festejos juninos, que incluem o São João e o São Pedro, a sua maior manifestação da cultura popular, superando até o carnaval, pois ocorre em maior ou menor escala e em todos os quatrocentos e dezessete municípios do serrado. Para Gildásio, além do aspecto folclórico, os festejos juninos, notadamente o São João, alavancam a economia do estado, pois as iguarias típicas da festa (milho, amendoim, laranja, genipapo) são produzidas na Bahia e servem de ingredientes para os bolos, canjicas, lelês e outros.

Um outro ponto importante salientado pelo historiador, foi também o fabrico de fogos, produção de festas com ornamentações especiais e contratações de músicos da terra que geram empregos temporários, renda e impostos. “Em Lauro de Freitas, a Prefeitura nos últimos anos tem investido nesses festejos, com a realização de “arraiá” na praça principal da cidade com atrações de renome nacional e bandas locais, além do apoio aos sambões juninos e outras manifestações que ocorrem em alguns bairros”, reforça Gildásio. Lauro de Freitas será mais uma das quatrocentos e dezessete cidades da Bahia que manifestará a cultura nordestina através dos festejos de São João. A Prefeitura garante que é uma das principais opções culturais e turísticas da região.

Por Edilson José e Aline Santos